20 de outubro de 2006

Aventuras de uma jovem senhora

- Oi! Onde você está?
- Na rodoviária.
- Atéeeeeeee agora???????????????

(30 minutos depois)

- E aí amiga?
- Uai, tô aqui na rodoviária?
-O quÊEEEEEEEEEEEEEEEEE??????

( 1 hora e meia depois)

- O que vamos fazer? Vamos para a festa mesmo?
- Você eu não sei... eu tô na rodoviária ainda...

Na verdade, foram 3 horas de espera na rodoviária. Lugar, digamos, pouco aprazível para se passar tanto tempo.
O jeito foi buscar um livro no carro e me deliciar com minha leitura.

- A senhora tem um carregador de celular?
- Não, infelizmente não.
- É que não tenho bateria e preciso ligar para meu cunhado me buscar.
- Como já te disse, não tenho.

O olhar de pidão daquele caipira me comoveu.( Deus, como sou fácil!) .

- Pronto, usa a minha bateria.
- A senhora é de Alterosa também?
- Não.
- É de Divinópolis?
- Não.
- A senhora então deve ser daqui...
- Sou sim.

Este interessante diálogo não me deixava prosseguir com a minha leitura. Mas eu era insistente e não desviava o olhar do livro. Mas acho que ele era mais.

- A senhora vai viajar?
- Não.
- ah.
...
- A senhora então deve estar esperando alguém.
- Sim.
- Posso saber quem?
- Meu primo.
- E o primo da senhora vem da onde?
- São Paulo.
- São Paulo... sei.
- Pois é.
- Ele trabalha com lingerie?
- Não.

O rapaz se dirige à lanchonete e compra uma lata de cerveja e grita de lá?

- A senhora aceita uma cerveja?
- Não, obrigada.
- Um suco?
- Não, muito obrigada.
- A senhora tem certeza? Tem de uva, de pêssego...
- Tenho certeza sim. Obrigada.

Continuo minha leitura até ele vir mais uma vez...

- Vou dar uma manga para senhora!
E tirou uma manga de dentro da sacola.
- É lá da minha roça. Sem produto nenhum, uma delícia. Pode comer que a senhora vai adorar!
- Obrigada.

Ainda bem que ele logo foi embora. E eu fiquei segurando a manga. Não teria coragem de jogá-la fora. E tentei equilibrar a bolsa, a manga e o livro. Ah, o livro. Vamos à ele.

- A senhora é muito bonita e elegante.

Bom, pelo menos esse não rendeu assunto.
De repente, se aproxima uma mulher grávida. Muito grávida. Sentou-se ao meu lado e quis saber quem eu esperava, de onde vinha, qual era o tempo de atraso... Daí um rapaz comentou que o ônibus da amiga dele estava atrasado 15 minutos. Éramos 3 ansiosos. O rapaz comentou que se fosse eu pararia de ler porque era a chamada "leitura branca", pois não me lembraria de nada que li por estar com a cabeça em outro lugar. Quis negar, mas acabei fechando o livro.
O marido da mulher grávida chegou para nosso alívio. A impressão é que a mulher ia dar a luz a qualquer momento.
Ficamos eu e o rapaz que comentou que eu deveria ser executiva pela minha roupa e já disparou a falar que as mulheres da capital eram muito independentes e queriam ser assim. Que as mais bonitas iam embora das festas sozinhas pois os homens não têm coragem de se aproximar. Que no interior a vida é mais fácil. Que eu não aparentava a minha idade e que eu deveria ir mais para a balada. Segundo ele, as mulheres menos favorecidas saem mais.

- Renata?
- Oi!
- É a tia. Seu primo está na rodoviária e não consegue falar no seu celular. Onde você está?
- Oi tia. Estou na rodoviária também.
- Ué, ele falou que não te viu.
- Pode deixar tia, vou procurá-lo.

Me despeço do rapaz, ele pede meu telefone. Eu sorrio e dou tchau.

By Renata que não via o primo há 20 anos, achou a manga um presente inusitado, mas gostou mesmo foram das flores que recebera de manhã.
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2 comentários:

Paulo Morais disse...

Rodoviária é mesmo um outro mundo. Me lembro que uma vez fiz uma reportagem entrevistando o pessoal que chegava do interior. Tem cada história que dava bons livros. E um bom post, como acabei de ler.

Grande abraço!

Anônimo disse...

Olá!
Que situação, em!? rsrs...
Gostei bastant do seu blog.